Término do inquérito sobre o bolo envenenado: cartas de Deise Moura dos Anjos revelam conflitos
A conclusão da investigação sobre o infame caso do bolo envenenado, que ganhou notoriedade como Operação Acqua Tofana, trouxe à tona novos detalhes e evidências.
Na quinta-feira, 20 de fevereiro, o inquérito foi oficialmente enviado ao Judiciário, apontando Deise Moura dos Anjos como responsável por quatro homicídios triplamente qualificados e quatro tentativas de homicídio, todos relacionados ao consumo de um bolo contaminado.
Com um total de mais de mil páginas, o processo inclui 24 perícias realizadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), além de 25 depoimentos e sete relatórios técnicos. O inquérito que investigou a morte do sogro de Deise também contou com um volume considerável de documentos, totalizando mais de 400 páginas.
Linha do Tempo da Tragédia
A sequência de eventos que culminou nessa tragédia foi registrada da seguinte forma:
- 23/12/2024: Seis pessoas consomem o bolo envenenado.
- 24/12/2024: Três vítimas falecem, enquanto três sobrevivem.
- 25/12/2024: Testemunha-chave é ouvida na Delegacia de Polícia de Canoas.
- 26/12/2024: Apreensão de celular e notebook da investigada é decretada.
- 05/01/2025: Deise Moura dos Anjos é presa temporariamente.
- 08/01/2025: Exumação do corpo do sogro da acusada é realizada.
- 10/01/2025: Resultados da exumação são divulgados pelo IGP.
Provas e Evidências
As investigações reuniram um conjunto de provas que reforçam a acusação contra Deise. Dentre os elementos principais, destacam-se as compras de substâncias tóxicas feitas em agosto de 2024, depoimentos que indicam comportamentos suspeitos da acusada e cartas escritas por Deise, nas quais ela menciona conflitos familiares e a intenção de utilizar veneno.
Conteúdo das Cartas
As correspondências revelam um panorama emocional tenso e revelador. Em uma das cartas, datada de 12 de fevereiro de 2025, Deise expressa sua indignação e alude à sua relação conflituosa com a sogra:
— Muito obrigada por esses 20 anos que fez da minha vida de casada um inferno. Mais uma vez, eu sou a vilã e você a mocinha. Fiz um bolo com uma farinha podre, que sabe-se lá de onde saiu, quanto tempo estava aberta, cheia de veneno, matou a família toda.
Outro trecho revela um pedido de ajuda e uma confissão de sua luta contra a depressão:
— Sogra, humildemente te peço ajuda e socorro. (…) Te juro pela vida do Davi que não fui eu que causei isso. A droga do veneno que comprei ‘pra mim’ (…) chegou em 3/12 e, na mesma hora que chegou, eu coloquei fora na pia do banheiro, pois bem na hora que abri, o Davi chegou. Eu tava chorando, e ele me abraçou e disse: ‘Calma, mãe, não fica nervosa, eu te amo, reza um pouquinho que passa’.
Além disso, Deise deixou uma mensagem final, refletindo sobre a dor da perda e o peso das decisões passadas:
— Não podemos alterar o passado, nem trazer de volta as pessoas amadas que perdemos. Eu adorava meu sogro, amava a Dinda e a tia Maida (…). Em relação à Tati, há vinte anos atrás, seu ciúme obsessivo nos distanciou, juntamente de todos vocês com nós.
Investigação da Morte do Sogro
A investigação sobre a morte do sogro de Deise levantou suspeitas de envenenamento. A exumação do corpo revelou a presença de substâncias tóxicas compatíveis com aquelas encontradas no bolo. Depoimentos indicaram que Deise mantinha um histórico conturbado com o sogro, e antes de sua morte, ela havia feito comentários insinuando que algo poderia acontecer com ele. No entanto, devido à extinção da punibilidade, conforme o Artigo 107, inciso I, do Código Penal, Deise não foi indiciada por essa morte.
Em um trágico desfecho, Deise foi encontrada morta na cela da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba em 13 de fevereiro, levando ao encaminhamento do inquérito ao Ministério Público, que deverá solicitar o arquivamento do caso.
Esta tragédia ressalta não apenas os horrores que podem estar escondidos nas relações familiares, mas também as complexidades da saúde mental e as repercussões de um ato desesperado.
Fonte: Bei – Site de Notícias
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