Falece aos 89 anos o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica: o fim de uma vida de luta pacífica e de simplicidade

Hoje, 13 de maio de 2025, o Uruguai despediu-se nesta terça-feira de uma de suas figuras mais emblemáticas: José Alberto Mujica Cordano, mais conhecido como “Pepe Mujica”, faleceu aos 89 anos, em decorrência de um câncer no esôfago. A notícia foi confirmada pelo governo uruguaio nas primeiras horas do dia, gerando comoção nacional e repercussão internacional.

Mujica não foi apenas um chefe de Estado — foi símbolo de uma era em que ética, simplicidade e resistência podiam caminhar lado a lado. Sua biografia é entrelaçada com os momentos mais complexos da história recente do país: da militância armada nos anos 1960 à presidência da república entre 2010 e 2015, passando por anos de cárcere sob a ditadura militar.

A trajetória de Mujica foi marcada por escolhas que desafiavam os protocolos tradicionais da política. Morava em uma chácara modesta, doava a maior parte de seu salário como presidente e manteve até o fim seu velho Fusca azul, que se transformou em símbolo de modéstia e autenticidade. Sua forma de viver, mais do que suas palavras, ofereceu um contraponto contundente ao mundo político marcado por ostentação e distanciamento.

Durante seu mandato, conduziu reformas sociais significativas, incluindo a regulação estatal da cannabis, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e o avanço de políticas públicas voltadas à inclusão. Para alguns, medidas polêmicas; para outros, avanços civilizatórios. Mujica não temia ser contestado — movia-se pelo que julgava necessário, não pelo que era conveniente.

Apesar das divergências ideológicas que sua figura despertava, o ex-presidente era amplamente respeitado até por adversários, pela forma como expressava suas ideias: com franqueza, mas sem hostilidade; com firmeza, mas sem arrogância. Em sua última aparição pública, em janeiro de 2025, fez um discurso breve e direto: “Cumpri meu ciclo. Agora preciso descansar. A vida me deu mais do que pedi.”

Nascido no campo, Mujica retornou à terra tanto no início quanto no fim de sua jornada. Foi ali que encontrou sentido para sua existência — entre plantações, ideias e batalhas. Nunca se desvinculou da natureza, nem do povo que dizia representar.

Líder rural, guerrilheiro, estadista, pensador: Mujica deixa um legado singular, difícil de ser rotulado. É lembrado por sua resistência às superficialidades da política contemporânea e por ter transformado seus anos de prisão em alicerce para construir pontes, e não muros.

O Uruguai decretou luto oficial de três dias. Diversos líderes mundiais, de distintas correntes ideológicas, enviaram mensagens de condolência. Mas, acima das falas institucionais, são os relatos anônimos de pessoas comuns — agricultores, estudantes, trabalhadores — que revelam a verdadeira herança de Mujica: a de ter sido alguém que os ouviu e os olhou como iguais.

A terra o recebe. E o tempo, agora, o eterniza.